quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Luxembourg

LUXEMBOURG
Pronuncia-se “lucsambur”

Terminando de descer o Quartier Latin, você chega ao Luxembourg, um bairro tranqüilo e pacífico, onde a vida parece passar mais lentamente. Encontra-se nas metades sul dos arrondissements 5 e 6 (ver no MAPA). Seus pontos altos são o Jardin du Luxembourg (um parque para deixar a vida passar bem devagar), o Palais du Luxembourg (sede do Senado francês) e a igreja de St. Sulpice (aquela do Código da Vinci).

E foi o que fizemos. Mas antes, terminando de descer a St. Michel, resolvemos usar o cartão de telefone para ligar para casa e descobrimos que ligar de Paris para BH é uma das coisas mais baratas da história da telecomunicação mundial. Compramos um cartão de 7 euros (eu acho) e, ao todo, falamos por mais de hora. Entramos numa cabine telefônica ali e a Nanda ficou uns 20, 30 minutos conversando em casa e se atualizando das notícias, repercussões e bafões do nosso casamento, que tinha sido há apenas 3 dias. É a linha Paris-BH da fofoca!

Aproveitamos a parada e compramos uma água num mercadinho ali também. E foi então que descobrimos que água mineral em Paris é ruim pra dedel! Aliás, a água em Paris é ruim pra dedel. No hotel a gente toma a da torneira mesmo e ela já tem um certo gostinho; mas a mineral que a gente comprou era horrível! Dizem que é porque a água é enriquecida com magnésio, enxofre ou sei lá o quê. Só sei que na escola francesa eles devem ensinar às crianças: “propriedades da água: incolor, inodora e intragável”. Porque insípida não é! Agora dá pra entender porque os parisienses abastados tomam água Perrier: não é metideza, é necessidade mesmo. Agora, brasileiro que toma, esse eu ainda não captei. Mas vamos ao que interessa.

Jardin du Luxembourg

Vindo do Quartier Latin, você chega pela entrada sudeste desse parque que é a própria ode à preguiça parisiense. O parque é realmente bem bonito, com bastante verde. Mas o que mais vi gente fazendo ali foi o exercício do ócio mesmo. Nada de caminhadas, corridas, esportes... nem mesmo um baralhinho ou dominó. A arte do fazer nada reinava no local. Vários bancos e cadeiras são espalhados pelo parque e o pessoal, não contente em ficar sentado, ainda puxava uma cadeira para poder esticar as pernas. Foi a deixa perfeita pra gente dar uma descansada nos pés cansados. O da Nanda acho que ainda não está 100% recuperado até hoje. AQUI tem um vídeo da preguiça generalizada.


Nanda no Jardin du Luxembourg


O esporte nacional do Luxembourg

O parque, segundo dizem, é o mais popular de Paris (mas eu acho o Tuilleries bem mais bonito) e ali há um café com mesas ao ar livre, quadras de tênis, um apiário. Outro ponto considerado importante do parque é a Fontaine de Médicis, um lago de peixes dourados ladeado por árvores, onde as pessoas ficam sentadas às margens para... não fazer nada. Slow travel total! E os limites norte dos jardins são recortados pelo Palais du Luxembourg e seus canteiros. Antigamente o parque nada mais era se não os jardins do palácio, até que no século 19 foi aberto ao público.


A Fontaine de Médicis


Os canteiros do Palais

A entrada no parque é gratuita (nem precisa de PMP) e o uso das cadeiras da preguiça também! O seu horário de funcionamento varia de acordo com a época do ano, porque ele acompanha o dia. Abre às 7h30 da manhã e fecha ao anoitecer. Em agosto era de 7h30 às 20h15. Apesar de quê, às 20h15, em agosto, não havia ainda nem sombra de escurecer. Vou mostrar isso melhor quando falar das Tuilleries.

De acordo, com a placa, em agosto, abetura às 7h30 e fechadura às 20h15
Palais du Luxembourg

Exatamente atrás do Jardin du Luxembourg (na verdade, delimitando-o) fica o Palais du Luxembourg. Foi o palácio real até a época da revolução, depois foi usado como prisão, na Seguda-Guerra foi quartel-general e abrigo anti-aéreo. Hoje é a sede do Senado francês. Não é nada de mais, mas está no seu caminho entre o Jardin e a St. Sulpice. Não custa olhar para o lado e ver. Para mim, ainda tinha o gostinho de ser justamente o Senado, onde eu havia acabado de ingressar (no brasileiro, é claro!). E eu pude olhar, ver e dizer: o nosso é mais bonito!


Senados: o deles...

... e o nosso: muito mais bonito!
No caminho entre o Palais e a St. Sulpice duas coisas me chamaram a atenção. A primeira foi que vimos uma fonte de água com cara da época do Romantismo. Mas não tive as caras de beber não. Essa água parisiense já estava deixando minha língua anestesiada. A outra foi que vimos alguns carros pichados na cidade. Achei isso o cúmulo do vandalismo. Será que é isso mesmo? Pichadores atacam os carros em Paris? Fiquei até com saudades dos nossos, bárbaros tão respeitosos.

Com essa água ruim aí dentro, tinha que ter essa cara feia mesmo!

Saint-Sulpice

Ao passar em frente ao Palais du Luxembourg e virar à direita na primeira rua (Garanciere), você chega aos fundos da Igreja de Saint-Sulpice. Mas a igreja é tão grande e imponente, que, ao ver os fundos, você já acha que se trata dela toda. E ainda a acha grande. E é mesmo! Essa impressão pode ser vista nesse vídeo AQUI. Atentem para um detalhe no vídeo: enquanto eu mostro a impressionante vista inicial da igreja, a Nanda não perde tempo e manda: “eles deviam lavar, né?!” hehehehehe.... Mas se a igreja demorou mais de um século (mais precisamente 134 anos) para ser construída, imagina como seria para lavá-la? Quando conseguissem chegar na parte da frente a de trás já estaria toda suja de novo.

Nanda e a St. Sulpice - uma lavadinha caía bem, né?!
A igreja ficou ainda mais conhecida após o livro e o filme “O Código da Vinci”. É nessa igreja que o monge entra em busca de uma pista do Santo Graal, quebra o chão no ponto onde passa a linha meridiana (supostamente o vestígio de um templo pagão) e mata uma freira. Por conta da referência na obra, obviamente, houve um aumento do número de turistas na igreja, o que obrigou o pároco a colocar um cartaz desmentindo algumas falsas informações, como a do templo pagão e de que as letras P e S nas suas janelas não significam Priorado de Sião, mas Pedro e Sulpice, os padroeiros da igreja. Mas continua um tanto de gente indo a essa igreja só para ver a linha meridiana, as letras P e S e – agora – o cartaz do padre! É mole?

É só quebrar aí para adentrar um misterioso templo pagão. 
Mas cuidado: se você falar Maria Sangrenta três vezes ela aparece por ali.
Por sorte, quando fomos não havia turistas identificáveis lá dentro (só nós!). E o fato é que a igreja é muito bonita e impressionante. Sua nave central é muito grande, o altar é bem luxuoso e nos fundos há um órgão de tubos gigantesco. Além disso, a igreja possui várias capelas laterais que não deixam nada a desejar a muita igreja inteira. Inclusive nós assistimos à missa numa dessas capelas, e foi aí que percebemos que a missa é universal mesmo. Quer dizer, eu já sabia disso, mas nunca tinha vivido isso. Além de a liturgia da palavra ser idêntica em qualquer lugar do mundo (as leituras que se escuta no Brasil em determinado dia são as mesmas da França, dos EUA, da Austrália), quem está acostumado com o rito da celebração não precisa entender nada da língua em que a Santa Eucaristia está sendo celebrada. Muito bacana isso. A gente deu a maior sorte, chegamos na igreja às 18h50 e percebemos que ali num cantinho estava rolando uma movimentação com cara de que alguma coisa ia acontecer. Não foi difícil perceber que uma missa estava para começar. Sentamos lá e participamos normalmente da missa, como qualquer francês da vizinhança, e acompanhamos direitinho, respondendo tudo em português mesmo, baixinho. Só na hora da “Paz de Cristo” é que não deu pra disfarçar. Não fazia idéia de como desejar a paz em francês, mandei em português mesmo. Mas ninguém ligou, devem estar acostumados. Achei tão interessante assistir a uma missa em outra língua que resolvi dar uma filmadinha escondido. Provavelmente não podia, mas eu queria registrar o momento, então fiz o vídeo pirata da missa assim mesmo. Tá AQUI e AQUI. O vídeo está meio mexido demais porque eu ficava segurando a câmera aleatoriamente, fingindo que eu não estava filmando. hehehehehe...


O órgão gigante
 
A "capelinha" da missa, com direito a vídeo pirata.

A St. Sulpice fica aberta ao turismo de 7h30 às 19h30 e a entrada é gratuita. Mas não sei se o padre vai gostar de te ver tirando foto do meridiano, do cartaz desmentidor ou filmando a missa. Os horários de missa eu não consegui descobrir, mas sei que às 19h tem. Na saída da St. Sulpice fomos pela sua frente, onde está também uma bela pracinha, a Place St. Sulpice, e sua fonte, a Fonte dos Quatro Cardeais.

A pracinha em frente à St. Sulpice
 


...

Bom, depois de um dia cheíssimo, era hora de comer, e próximo da St. Sulpice eu havia anotado três dicas baratas: a Pizza Positano, que fica no nº 15 da rue de Canettes; a La Créperie du Comptoir (dica do Conexão Paris), uma creperia de um conhecido chef, coladinha do metrô Odeon; e o Polidor, um restaurante onde o prato custa entre 11 e 14 euros, na rua Monsieur le Prince esquina com Racine. Entretanto, tenho que revelar uma curiosidade turística da Nanda meio tenebrosa. Apaixonada como é com Mc Donald’s (!!!), ela faz questão de provar a “iguaria” em todos os países do mundo. Para ver quais as peculiaridades e descobrir que isopor é isopor em qualquer lugar. hehehehehe... Pois bem. Nesse dia ela estava aguada. E como tinha um bem próximo ao hotel, lá fomos nós! Foi bom que rendeu história: já no templo gastronômico do seu Donaldo, eu estava meio sem saber como entender as especificidades dos sanduíches em francês. Mas eis que um dos caixas me vê com a camisa do Brasil e grita: “Brasileiro? Entra na minha fila aqui!”. Que beleza! Me conta onde não tem um brasileiro, né?! A fila dele era muito mais demorada, mas a gente resistiu bravamente. O cara ajudou a gente, explicou como era cada sanduíche e saímos dali satisfeitos com tudo embrulhadinho pra viagem para comer no quarto. E, na hora de comer... ele tinha embolado o pedido inteiro e veio tudo diferente! Pffff....

Nanda e a alta gastronomia universal

Bom, esse post me deu uma vontaade de não fazer nada... volto logo com notícias de Champs Elysées e Ópera. Salut!



2 comentários:

Vovó Ni disse...

Legal, adorei!!!!!! vou continuar lendo porque esta muito bom.

Anônimo disse...

Estive na St. Sulpice agora em julho e posso dizer que foi a Igreja mais escura, assustadora e mal cuidada que visitei em Paris, as capelas laterais estavam com as paredes enegrecidas como se tivesse havido algum tipo de incêndio, ladrilhos soltos, etc, etc. No lado esquerdo da igreja tem um gnomon astronômico onde se segue a linha meridiana, em frente ao altar uma espécie de concha e no lado direito a placa que está fotografada neste post. Quando a luz do sol bate no gnomon de 1743 ou na placa significa que estamos nos solstícios (junho ou dezembro) e na concha que estamos nos equinócios (março ou setembro). Isso serve para marcar a data da Páscoa, que é comemorada no primeiro domingo de lua cheia após a luz solar bater nesta marca. No Gnomon há uma parte dos escritos que faziam referência aos reis e foram removidas durante a revolução de 1789.